Textos críticos/ Critical text
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Paisagens Gráficas - Stela Barbieri e Fernando Vilela

Cauê Alves e Guilherme Wisnik

Centro Cultura Porto Seguro
São Paulo, 2016

Assim como as pessoas, trabalhos de arte criam vínculos entre si de vários modos. Embora as obras da mostra tenham nascido no mesmo ateliê, elas possuem distintas personalidades, origens formais e conceituais.
Stela Barbieri se interessa pelo campo da imaginação e provoca ações que fogem de seu controle, tratando o acaso como elemento construtivo. Em vez de instrumentos tradicionais, a artista se vale de funis para despejar tinta sobre as telas e, a partir de sobreposições de camadas de guache, aquarela líquida e tinta acrílica, busca espessuras densas. Em seguida, lava, esfrega e retira algumas camadas da superfície da tela, até desvelar espaços fabulosos. Outra estratégia usada para se aproximar de um universo onírico e incerto, principalmente nos cadernos, é a colagem e a dobra: um papel comprido, contínuo e encadernado esconde faces que se mostram apenas parcialmente pela transparência.
Fernando Vilela investiga a cidade que o rodeia, os planos que impedem e permitem que o olhar penetre nas imagens fotográficas de um negro intenso e profundo. Suas combinações de gravuras com pinturas ou com fotografias produzem resultados inquietantes, em vistas de paisagens sempre aproximadas e algo claustrofóbicas, nas quais empenas cegas, recortes de céu e simples blocos abstratos se confundem, embaralhando a hierarquia de planos. Nas fotogravuras, a modularidade serial de elementos construídos - como janelas, gradis e postes - contrasta com os veios orgânicos da madeira, que infiltram uma tessitura irregular nas formas geométricas.
Daí que os diferentes caminhos que levam os dois artistas à figuração – o frágil traço orgânico, que desvela afinidades entre natureza e cultura, ou a solidez geométrica, afirmando o peso instável da experiência urbana – se mostrem aqui não como uma incompatibilidade, mas, ao contrário, como um rico diálogo através do qual a nossa visão de paisagem se expande. É a diferença que possibilita que essas poéticas se complementem e se encontrem de modo efetivo e afetivo.