Textos críticos/ Critical text
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Sanduíche

Afonso Luz

Centro Universitário Maria Antônia
São Paulo, 2003

O chumbo pesa. Mas se não for o peso, que virtude tem o chumbo? Se sofre o peso sua maleabilidade se mostra. Surrado pelo martelo, ou submetido à massa de pedra a superfície transtornada se deixa vergar. O chumbo se deforma, se faz amassar num modelado informe, dobrado, enrolado.

Superfície gravada de pancadas, marcas de sua submissão. Matéria grave que sob o peso do mundo tende à planura, ao rebaixamento, avessa à planura, ao rebaixamento, avessa à estruturações mais bem resolvidas doutros metais. Matéria grosseira, opaca, de frouxa coesão, sem caráter, algo impróprio ao esculturar. Se não pesa, separa ou divide, isola sem que nada possa atravessá-lo tranquilamente.

Mas também acolhe, deixa a coisa repousar em seu leito, sem deslizar num forte atrito.

O partido que as peças de Vilela tiram desta incerta virtude metálica nos devolve ao campo escultórico de forma vária.

Combinando experiências que surgem quando postos em relação, afinidades inusuais, os materiais se apresentam exteriores uns aos outros. Algo de estranho vem destes contatos e apartamentos, despertas de qualidades avessas. Há neles uma sedimentação inconclusa, repouso que se demora, lento assentar das coisas, vagar no descanso dos corpos uns sobre os outros. Essas novas peças tratam do peso e do contato de modo mais diverso, experimentando a pedra e o cimento sem as anteriores incrustações do metal que os integrava forçosamente. Sua fixidez, bem mais geológica, surge num depositar de camadas, numa reciprocidade de escoramentos, solidariedade bruta das coisas abandonads a elas mesmas.

 

 

 

 

 

 











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