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Duas pessoas
Rafael Campos
Galeria Virgílio
São Paulo, 2002
Quando a marchand Izabel Pinheiro convidou a mim e ao Fernando Vilela para fazermos uma exposição conjunta no Espaço Virgílio chegamos rapidamente às principais decisões. Os trabalhos deveriam habitar diferentes ambientes, por semelhanças formais que não ajudariam nas leituras recíprocas, mas embaralhariam a percepção das obras e das diferentes visões de espaço. Sim, por que ambos pensamos nas obras em relação ao espaço expositivo, mas de formas tão diferentes que chegam a ser opostas.
Vilela, com suas xilogravuras aplicadas diretamente na parede, confere uma transparência à arquitetura, como se a luz branca não fosse rebatida, mas viesse por trás, inundando o ambiente. Esse desdobramento luminoso para dentro do espaço termina por anuviar e suavizar os inúmeros elementos funcionais e não-funcionais da arquitetura, que, ao invés de entraves para a luz, intensificam-na quase como pequenos geradores. A transparência das decisões formais de algumas das esculturas reforça, a meu ver, essa tese.
Comigo acontece exatamente o contrário. As velaturas, petimentos e a profundidade aparente de um campo pictórico mais tradicional, contrastam com a forma de montagem aberta, que procura adaptar-se ao ambiente expositivo. As pinturas são coladas na parede e esparramadas, como se tivessem saído de uma centrifugação. Seu aspecto só reforça a existência de uma arquitetura que não cede aos desejos do artista, obrigando a pintura a escorrer pelo chão, pelas quinas, pelas frestas da sua fisicidade impenetrável.
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