"A
arte nada mais é do que um pedaço do mundo visto por
um temperamento"
Emile Zola
Quando a marchand
Izabel Pinheiro convidou a mim e ao Fernando Vilela para fazermos
uma exposição conjunta no Espaço Virgílio
chegamos rapidamente às principais decisões. Os trabalhos
deveriam habitar diferentes ambientes, por semelhanças formais
que não ajudariam nas leituras recíprocas, mas embaralhariam
a percepção das obras e das diferentes visões
de espaço. Sim, por que ambos pensamos nas obras em relação
ao espaço expositivo, mas de formas tão diferentes que
chegam a ser opostas.
Vilela, com
suas xilogravuras aplicadas diretamente na parede, confere uma transparência
à arquitetura, como se a luz branca não fosse rebatida,
mas viesse por trás, inundando o ambiente. Esse desdobramento
luminoso para dentro do espaço termina por anuviar e suavizar
os inúmeros elementos funcionais e não-funcionais
da arquitetura, que, ao invés de entraves para a luz, intensificam-na
quase como pequenos geradores. A transparência das decisões
formais de algumas das esculturas reforça, a meu ver, essa
tese.
Comigo acontece
exatamente o contrário. As velaturas, petimentos e a profundidade
aparente de um campo pictórico mais tradicional, contrastam
com a forma de montagem aberta, que procura adaptar-se ao ambiente
expositivo. As pinturas são coladas na parede e esparramadas,
como se tivessem saído de uma centrifugação.
Seu aspecto só reforça a existência de uma arquitetura
que não cede aos desejos do artista, obrigando a pintura
a escorrer pelo chão, pelas quinas, pelas frestas da sua
fisicidade impenetrável.
Rafael Campos
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