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texto - fragmentos do texto da dissertação
Introdução
A cidade
A xilogravura
No espaço da arquitetura
Lambe - lambe: A matriz como módulo de repetição
O deslocamento na narrativa em Lampião e Lancelote
Referências bibliográficas e visuais
O deslocamento na narrativa em Lampião e Lanceloti

Outra experiência de deslocamento e com módulos gráficos se deu no livro Lampião e Lancelote (Cosac Naify, 2006), escrito e ilustrado por mim. Impresso em três cores – preto, prata e cobre – e com todas as páginas ilustradas, esse livro funciona como uma narrativa gráfica, em que texto e imagem se relacionam tanto formalmente – quando a mancha de texto é parte da imagem – quanto do ponto de vista da narrativa – quando a imagem também se torna texto, elemento que narra a história. O processo de criação e realização deste livro me levou a algumas reflexões sobre a gravura, a matriz e a reprodução no livro ilustrado.

As ilustrações são realizadas com lápis, pincel e com carimbos de borracha que combinados, sobrepostos e articulados criam as imagens do livro. Desta forma, a matriz não é uma prancha – ou várias – da qual se reproduz uma imagem única, mas são pequenos módulos (os carimbos) que se reconfiguram a cada imagem. Num primeiro momento, trabalhando na mesa de luz, concebi as ilustrações pensando na sobreposição das cores. O desenho de cada cor foi feito em uma folha de papel e a mesa de luz permitiu simular a sobreposição das outras cores (em outras folhas) projetando o que iria acontecer na imagem final do livro quando impresso em off-set.

Para cada ilustração foram realizadas duas ou três imagens, digitalizadas separadamente. O segundo momento da criação foi no computador, com o programa gráfico Adobe Photoshop – ferramenta que utilizei para montar as sobreposições das cores, deixando evidente sua justaposição. Algumas provas de prelo² foram fundamentais para visualizar como funcionariam realmente essas sobreposições das cores no livro impresso.

O terceiro momento foi a impressão. Ao pensar o livro como gravura, a gráfica se tornou a extensão do meu atelier. Tradicionalmente, o que se busca na impressão gráfica de uma ilustração é chegar o mais próximo possível do original da imagem, seja uma aquarela, um desenho ou mesmo uma gravura. Meu esforço neste trabalho foi outro: como na criação de uma gravura, para mim, o original seria o próprio livro impresso em off-set.

Na prova de máquina detectei junto à produtora gráfica da editora que as cores reflexivas – o prata e o cobre – “vazavam” no preto, ou seja, o preto ficava acinzentado ou cobreado pois não conseguia cobrir a cor de baixo. Ao percebermos que esse problema ocorria pelo fato do preto sobrepor as cores reflexivas ainda molhadas, fomos obrigados a imprimir o livro em três etapas, uma cor de cada vez, com um intervalo de secagem de três horas entre uma cor e outra, para conseguirmos o resultado desejado (imagens 47 a 51).

Como em uma xilogravura, onde trabalhamos sem saber exatamente como ficará a imagem impressa, só pude ver todos os originais do meu trabalho na primeira impressão do livro. Na segunda tiragem decidimos imprimir o cobre e o prata juntos, na mesma máquina, e deixamos as páginas impressas secando por alguns dias, para depois imprimir o preto. O resultado saiu completamente diferente, pois com as cores cobre e prata bem secas o preto cobriu-as completamente, não deixando um sutil “fantasma” que aconteceu na primeira tiragem do livro. Como em uma gravura, as impressões do livro apresentaram diferentes resultados.